segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Parados no tempo


O Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking mundial dos países com mais crimes praticados contra as mulheres, não apenas crimes sexuais, mas também os mais sutis, como assédio, discriminação, desvalorização do trabalho, violência psicológica, doméstica…
Como explicar isso em uma sociedade democrática, livre e que sua lei iguala homens e mulheres como sendo dignos e merecedores das mesmas oportunidades e tratamentos?
Retrocedendo no tempo, há 28 anos, vivíamos em um período de regime militar, onde o autoritarismo imperava sobre tudo e todos, inclusive sobre as mulheres, que foram torturadas, estupradas e mortas por homens que se sentiam acima da lei e que achavam que elas eram objetos para satisfação e prazer, mesmo que isso infringisse o direito à escolha delas.
A violência contra a mulher tem forte influência do autoritarismo, não apenas do regime militar, mas do autoritarismo como fato histórico, que se tornou conhecido a partir do século XX. Ele é caracterizado pelo uso do abuso do poder e da autoridade, e na vida familiar pela dominação de uma pessoa sobre outra.
Ao pensar em autoritarismo, logo penso em machismo e vice-versa. Os homens têm grande apelo a desenvolverem o lado autoritário, pois desde sempre foram conhecidos por sua força física e brutalidade. Já as mulheres são o sexo frágil, com toda a sua sensibilidade e delicadeza não devem opinar em assuntos masculinos. Mas por quê? Esse preconceito que sempre existiu, e temo que sempre exista, faz com que os homens desvalorizem o trabalho das mulheres, discriminem-nas se acaso não forem adequadas ao padrão de vida feminino do século XIX, onde o lugar delas era em casa cuidando do marido e dos filhos, sem poder ter direito à educação e à cidadania. Faz com que machistas enraizados ‘’ensinem’’ suas mulheres através de violência física ou psicológica qual é a posição delas dentro de casa, que segundo eles é a de servir e apenas servir a eles. Além de que todo esse preconceito gera o aumento de crimes sexuais, já que se uma mulher usa um decote ou uma saia justa, algo crescente a partir da segunda metade do século XX, ela está buscando chamar a atenção e então merece ser assediada ou até mesmo estuprada. Isso é o que a sociedade machista-autoritarista prega.
Não, lugar de mulher não é no tanque, nem dentro de casa atrás do fogão e da vassoura, muito menos em cima de uma cama servindo de objeto sexual para seu parceiro. Lugar de mulher é onde ela quiser. Na escola, na biblioteca, na universidade, na academia, atrás do volante de um caminhão ou em uma plataforma petrolífera. Lugar de mulher é em cima de um salto alto (para aquelas que gostam), com uma roupa que valorize seu corpo e a faça sentir-se bem consigo mesma, buscando agradar apenas a ela mesma e não pensando que pode ser alvo de assédio ou desrespeito devido ao machismo do homem brasileiro.
Avançamos no tempo, mas parece que a concepção dos homens em relação às mulheres não. De 1980 a 2010, foram assassinadas no país cerca de 91 mil mulheres, 43,5 mil só entre 2000 e 2010. O número de mortes nesses 30 anos passou de 1.353 para 4.297, o que representa um aumento de 217,6% nos índices de assassinatos de mulheres. Essa pesquisa foi feita pelo Instituto Sangari. A pesquisa também revelou que foram registradas mais de 48 mil ocorrências de agressões contra mulheres no Brasil em 2011. Em 68,8% dos casos, a mulher sofreu a agressão dentro da própria residência.
Temos no país a Lei Maria da Penha, que aumenta o rigor das punições das agressões contra a mulher quando ocorridas no âmbito doméstico ou familiar. Mas infelizmente parece que não tem dado certo. Apesar de as mulheres serem incentivadas e começarem a denunciar a violência, a punição contra o agressor não é eficaz, o que gera medo e receio de denunciar, já que são grandes as chances de não ser feito nada.
O que fazer para mudar esse quadro? Eu acredito que enquanto a sociedade tiver em seu DNA genes autoritaristas, a violência vai continuar crescente, e não só contra mulheres, mas contra qualquer um que for contra a opinião e concepção de mundo de um autoritário. Assim como os militares em seu período autoritarista decretavam tudo o que acontecia no país e puniam quem ousasse ir contra as suas opiniões, ainda existem pessoas com o mesmo nível autoritário em um país democrático.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Entrevista - Jorge Eduardo França Mosquera


Jorge Eduardo França Mosquera se formou em jornalismo pela UFPR e em direito pela UniBrasil. Possui pós graduação, em nível de especialização, em sociologia política também pela UFPR. O profissional passou por todas as redações de Curitiba, mais rádio e TV. Com uma carreira extensa, ampla e muito boa, hoje o jornalista está em um projeto novo no qual faz jornalismo online sem patrão, o A Gralha. "A Gralha" é o primeiro jornal paranaense desenvolvido exclusivamente para a internet. Os responsáveis pelo jornal são:  Ana Cecília Pontes de Souza, Julio Tarnowski Junior, Leandro Taques e Jorge Eduardo França Mosquera. No qual, Jorge Eduardo França Mosquera concedeu a entrevista de hoje para falar um pouco sobre jornalismo online e seus desafios. 

Juventude Apurada: A ideia do site em si, é de fazer um jornalismo sem patrão. Vocês são: Ana Cecília Pontes de Souza, Julio Tarnowski Junior, Leandro Taques e o senhor. De quem exatamente partiu a ideia de fazer um tipo de jornalismo livre? Por quê?


Jorge Eduardo França Mosquera: Como os demais, tenho por berço o jornal impresso. E é sonho de todo jornalista ter um dia o seu jornal, não? Pois a internet nos dá essa oportunidade, e o custo é bem menor. Não gastamos com gráfica, distribuição, comissão do jornaleiro, etc. E é muito bom ser patrão de si mesmo.Fazemos um jornalismo livre, sim, mas coberto de responsabilidades. Se formos processados, estaremos quebrados. 

Juventude Apurada: Quais as vantagens e desvantagens de se fazer um trabalho diferenciado como esse?

Jorge Eduardo França Mosquera: Como A Gralha não é um portal de notícias em tempo real, mas um jornal eletrônico, não temos pressa em fazer as atualizações.A maior desvantagem, creio, é sermos de um veículo ainda pouco conhecido. Com o tempo vamos superando.De resto, não é um trabalho tão diferenciado assim. Apuramos as notícias, redigimos e editamos como um jornal convencional.

Juventude Apurada: Quais as maiores dificuldades para o senhor, em especial nesse grupo, que tem encontrado até agora?

Jorge Eduardo França Mosquera: Falta de dinheiro, proveniente dos anúncios que ainda não temos, para podermos contratar uma boa equipe de reportagem.

Juventude Apurada: Se vocês são sem patrão, quem paga o salário de vocês? Como vocês recebem?

Jorge Eduardo França Mosquera: Ninguém tem salário. E como ainda estamos sem anúncios (o jornal tem apenas sete meses de vida), nada recebemos. Talvez por isso alguns sócios estejam meio afastados. Com o tempo vamos superar essa dificuldade.

Juventude Apurada: E funcionários? Vocês têm? Há mais pessoas trabalhando com vocês e auxiliando?

Jorge Eduardo França Mosquera: Não. Só temos colaboradores voluntários. Valério Fabris, diretor-presidente da Rádio Inconfidência de Belo Horizonte; Dirceu Pio, consultor de comunicação em São Paulo; Rodrigo Morosini, crítico de cinema, aqui de Curitiba, que também produz matérias de automobilismo; Gustavo Kipper, publicitário que escreve sobre MMA; Emerson Cervi, professor de ciência política da UFPR; Aroldo Murá, professor e jornalista; Zé Beto, o blogueiro mais famoso da cidade; Maringas Maciel, fotógrafo. E outros poucos, mas todos muito bons.

Juventude ApuradaQuais as formas de apuração utilizadas para o site? Quais as táticas de confiabilidade que você, como jornalista, utiliza? 

Jorge Eduardo França Mosquera: As mesmas que se usa em qualquer veículo. A única diferença, e isso é importante, é que, por sermos um jornal eletrônico, eventuais mancadas podem ser corrigidas instantaneamente, logo que percebidas. Temos erratas em tempo real.

Juventude Apurada: Vocês trabalham com um conteúdo divulgado apenas na internet. E na hora da apuração, teriam matérias publicadas em que foi usada apenas a internet para apurar as informações?

Jorge Eduardo França Mosquera: Muitas. Um de nossos papeis é integrar sites e blogs confiáveis, todos de tom marcadamente progressista. Obviamente, citamos a fonte.

Juventude Apurada: Os jornalistas estão cada vez mais dependentes das fontes, já que, testemunham menos os fatos e estão menos presentes nos casos ocorridos devido a ficarem mais na redação. Como lidar com fontes que muitas vezes tem seus interesses próprios e por isso está passando a informação? 

Jorge Eduardo França Mosquera: Recusamos, sempre educadamente, fontes que defendem interesses que não seja o interesse público.

Juventude Apurada: A internet, principalmente hoje, gira em torno da rapidez e agilidade. Já teve que publicar algo que não tinha muita certeza para não perder a informação ali no momento?
 
Jorge Eduardo França Mosquera: Nunca. Não temos pressa. Mas já furamos portais de peso algumas vezes.

Juventude Apurada: Por que a decisão de publicar os conteúdos na internet? E não, por exemplo, no impresso? O senhor acredita no fim do impresso?  Que ele possa não ter mais espaço daqui algum tempo?

Jorge Eduardo França Mosquera: O impresso não acabou. Para nós, a internet é quase de graça. Quando A Gralha se viabilizar financeiramente, terá uma edição de final de semana, com noticiário consolidado e muitas matérias mais aprofundadas.

Juventude Apurada: E para finalizar, que conselhos o senhor daria para jovens jornalistas hoje que estão iniciando? E para jornalistas que queiram seguir a carreira em um jornalismo autônomo e sem patrão? 

Jorge Eduardo França Mosquera: Não deixar de ler nunca, até bula de remédio. Procurar entender um pouco de direito constitucional e uma ou duas línguas estrangeiras. Estar atento o tempo todo. Alimentar as fontes e não ter amigos. Nessa atividade é muito perigoso. E não ter vergonha de visitar possíveis clientes, já que vai ser patrão, dono do empreendimento.

Acredite, estou mentindo - Ryan Holiday


‘’Acredite, estou mentindo’’, como a própria chamada da capa diz, é um livro “espantoso e perturbador“.
Ryan Holiday é um manipulador das mídias sem pudor algum. Existem momentos em que o autor nos leva a pensar que é um psicopata e outras que elevam o nosso conceito sobre ele e pensamos “nossa, como ele é demais”. Ele consegue impactar, e nos leva a entender como as coisas realmente funcionam nesse meio, sendo ético ou não.
A mídia hoje é alimentada de informações bombásticas e que chegam o mais breve possível. Rapidez. Esse é o grande item da vez. O mundo jornalístico vive dessa velocidade, e a cada dia buscam notícias factuais, rumores e etc. O jornalismo online nada mais quer além de visualizações de páginas e compartilhamentos nas redes sociais, é isso que importa no momento. O que ninguém nem imagina ou presta atenção no dia a dia, é que isso é um sistema vulnerável e manipulado, e o Sr. Holiday se tornou mestre nesse quesito de manipular a mídia para conseguir divulgar o que quer e enganar. Ele é maquiavélico, eu diria. Porém, nesse livro ele trás os segredos e ensina como a mídia funciona na íntegra, mostrando e contando o que fez durante a sua carreira da forma mais honesta possível.

Nos primeiros três capítulos ele trás uma introdução mostrando aos poucos, entrando de leve nos assuntos, começando com os blogs. A partir do 4º capítulo ele ensina como utilizar táticas que, para ele, são eficientes nesse meio virtual. No total, são nove táticas. “Dar um golpe nos maiores golpistas”, como diz o próprio autor ao explicar o porquê e para quê funcionam as mídias. É possível manipular os sites utilizando apenas essas táticas, se aproveitando de sua vulnerabilidade e controlando o fluxo de informação na internet.

Cap. 4 – 1ª tática: Blogueiros são pobres, ajude-os a pagar suas contas.
O que mais se busca ao contratar blogueiros, é a sua rapidez ao publicar o conteúdo na web. A informação gira em torno da rapidez. Os leitores esperam o conteúdo completo, mas na horar. A forma de pagamento dos blogueiros reflete na qualidade, velocidade e precisão do conteúdo informativo. No começo, os pagamentos dos redatores eram feitos de acordo com os artigos publicados, ou seja, quanto mais artigos, mais esse jornalista iria ter de “salário”. Gawker, por sua vez, estabeleceu uma nova forma de pagamento para os blogueiros, a indústria abandonou o velho padrão de pagamento por artigo, para um sistema de pagamento por visualização de página, que dava um bônus aos redatores baseados no tráfego mensal que geravam. Esse bônus era um adicional em cima do seu salário fixo mensal – estilo uma comissão – ou seja, quanto mais visualizações os jornalistas tinham com suas matérias publicadas, maiores eram os seus salários. Eles podiam duplicar, triplicar o salário, e assim por diante. Hoje o sistema de bonificação ainda continua, mas não na mesma proporção dessa época quando surgiu. A média hoje é de que um redator precisa de 100 mil visualizações para conseguir 58 dólares. Porém, essa tarefa trouxe muitas dificuldades ao mundo dos blogueiros, que têm de ir em busca de muitas visualizações para uma boa remuneração. Alguns sites como o Google e o Youtube, por exemplo, só pagam em cima de visualizações, não existe remuneração fixa.

- Prontos para exploração: O que tudo isso significa, segundo o autor, é que se os blogueiros desejam ficar ricos, ou ao menos pagar as suas contas mais básicas, eles precisam ir em busca - de muitas visualizações. E é nesse contexto que entra a participação maquiavélica do nosso querido manipulador de mídias – Ryan Holiday – na parte de distribuir produtos grátis para esses blogueiros. Por exemplo, a distribuição de roupas para blogs de moda que publicam fotos de roupas de tal marca todos os dias. E qual a intenção? Divulgar a marca, e depois oferecer um contrato, de modo que os blogueiros recebam uma comissão toda vez que alguém comprar algo após visualizar as fotos no blog, ou seja, lucro.
Blogueiros querem dinheiro, e na maioria das vezes não se preocupam se os escândalos sobre os quais escrevem são verdadeiros ou não. O autor descreve que já perdeu as contas de quantas grandes histórias já contou para blogueiros, todas elas favoráveis a ele, mas que não eram verdade, porém através delas esses blogueiros ascenderam na carreira de jornalista, conseguindo trabalhos em revistas, jornais, TV e etc.

Cap. 5 – 2ª tática: Diga-lhes aquilo o que querem ouvir.
Os jornalistas dependem de suas fontes, e essas fontes têm seus interesses próprios.  Eles raramente testemunharam algum fato sobre o qual estão escrevendo, precisam dessas fontes. Nessa realidade, tudo é pintado por essas fontes que querem se auto beneficiar com “informações”. O wikipédia é muito utilizado como fonte de pesquisa, até por jornalistas. Porém, é um ato muito perigoso e nada confiável, pois o conteúdo do site pode ser modificado por qualquer pessoa, e assim também manipulado. Algo que o nosso manipulador de mídia não deixou de fazer para conseguir seus interesses, claro, manipulando o site, colocando as informações de seu interesse, e dessa forma divulgando um produto ou alguém. O jornalista que irá pesquisar no wikipédia e reproduzir essa informação em seus blogs, fará com que a informação seja visualizada por mais e mais pessoas, e a mentira será confiada pelas pessoas como algo verdadeiro. Aliás, uma das coisas também defendidas pelo autor na divulgação de seu produto: a mentira.

Cap. 6 – 3ª tática: Dê-lhes o que se espalha, não o que é bom.
 A mídia é manipuladora, e pode de maneira negativa induzi-lo a reproduzir e compartilhar o material que ela produz. Por exemplo, há estudos de sujeitos que assistiram vídeos negativos (guerra, acidente de avião, execução, desastre natural) e que ficaram mais agitados e conseguiram se lembrar melhor do que aconteceu, prestar mais atenção e empregar mais recursos cognitivos para consumir a mensagem do que quando o material não negativo. “Esse é o tipo de coisa que faz você compartilhar. Eles mexem com seus botões para vocês clicarem nos deles.” O autor não dispensa de maneira alguma de táticas fraudulentas para vender seus produtos, o que importa é vender. “Cada uma delas’’, as táticas, ‘’expõe uma vulnerabilidade patética do nosso sistema de mídia e, quando manejadas adequadamente, fornecem meios para controlar o fluxo de informações na internet” – Ryan Holiday.
Alunas: Suelen, Mariane, Débora Maria e Luíza Giovana.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Invasão na Síria: paz ou poder?

A Primavera Árabe de 2011 no Egito e na Tunísia influenciou os sírios a irem às ruas durante o mês de março, em oposição ao regime político de Bashar Al-Assad. Os sírios protestavam contra a estagnação política e pediam uma reforma democrática. Os protestos não foram bem aceitos pelo governo, que respondeu com medidas radicais. As tropas do governo começaram a abrir fogo contra civis, que disparavam de volta. A partir daí, forças rebeldes surgiram e começaram a se armar para combater a violência do sistema político, levando os conflitos a destruírem cidades inteiras. A tensão crescente entre os dois grupos criou o atual estado de guerra civil e, até o final de agosto de 2013, em cerca de dois anos e meio de conflito, 110 mil pessoas morreram. 

Em 21 de agosto de 2013, um suposto ataque químico deixou cerca de 1,3 mil mortos, segundo rebeldes sírios. O acontecimento chocou a comunidade internacional, uma vez que o uso de armas químicas é proibido, inclusive em situação de guerra. Em meio a essa situação, é muito complicado decidir intervir no conflito, visto que as opções militares não ajudam muito: enviar armas aos rebeldes, mesmo que ajude a derrubar o ditador Al-Assad, acabaria dando poder aos islâmicos fundamentalistas, o que levaria, possivelmente, a uma segunda guerra civil. E uma intervenção como a ocasionada pelos Estados Unidos no Iraque, aceleraria as mortes aumentando o antiamericanismo no mundo árabe. Entretanto, no dia 04 de setembro de 2013, a Comissão de Relações Exteriores do Senado americano aprovou um projeto do presidente Barack Obama para uma operação militar contra o regime sírio, com bombardeios em áreas militarmente estratégicas na Síria.  

Isso nos leva a questionar a real lógica da intervenção americana, visto que conhecemos a história totalmente capitalista dos Estados Unidos. Até hoje é questionada a invasão do Iraque em 2003 pelo país. O pretexto para a invasão foi a alegação de que o Iraque tinha armas nucleares, o que se mostrou inverídico. No entanto, existem duas razões que podem ser mais bem aceitas: os americanos estavam de olho na imensa fonte de riqueza iraquiana – o petróleo, o que dificilmente teriam por baixo preço com Sadam Hussein no poder; Ou, como se sabe, os americanos ganham muito dinheiro com a fabricação de armas e, essa indústria está sempre exigindo guerras para se movimentar. Logo, uma guerra era necessária para livrar algumas dessas indústrias da falência. Quem sabe sejam apenas teorias, mas que existe lógica, isso é indiscutível. Por que enquanto milhões de pessoas morrem de fome na África, por exemplo, os Estados Unidos não se mobiliza para ajudar? Porque infelizmente a África não representa maior poder aquisitivo para eles! Já a Síria, tem como economia o petróleo, ou seja, benefícios aos EUA. Qual a lógica do Barack Obama em querer invadir a Síria e matar sírios? Seria algo mais ou menos assim: “Na Síria, sírios estão matando sírios. Vamos invadir a Síria e matar sírios, para mostrar aos sírios que matar sírios é errado.” Ou... Também existe interesse (apenas) econômico por trás disso! 

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A Ética Jornalística: As duas dimensões no caso Tayná

Felipe Harmata (mediador), Rafael Moura, Isabel Mendes e Roberto Rolim
Foto de Suelen de Paula
Oi leitores! Infelizmente esse é o último dia da Semana de Comunicação UP, e para encerrarmos, o blog Juventude Apurada participou também da palestra de hoje, chamada ‘’A ética jornalística em duas dimensões: O caso Tayná’’, o crime que comove o Brasil inteiro desde o mês de junho.

A palestra contou com a participação de Isabel Mendes, advogada e coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da OAB Paraná, Rafael Moro, jornalista formado pela UFPR e correspondente do site UOL em Curitiba, e Roberto Rolim, ex-advogado de defesa dos 4 suspeitos do crime, que confessaram o estupro e assassinato da menina Tayná, de 14 anos, devido à torturas sofridas pela polícia civil.
Todos eles estão muito preocupados com a atual situação do jornalismo brasileiro, e nos passaram conselhos muito úteis e valorosos. 

“Se esse crime fizer com que a polícia seja mais cautelosa ao apresentar os suspeitos de crimes, já é um grande ganho’’, disse Rafael Moura.
A exposição que um suspeito sofre é capaz de destruir todo o seu futuro, e os jornalistas têm sido meros reprodutores de declarações das fontes, sem se preocupar com essa exposição perigosa.
Este caso ensina muito sobre qual a credibilidade de uma fonte oficial. Para Rafael, a palavra da polícia, especificamente neste caso, foi tida como verdade absoluta, mas um bom profissional deve sempre desconfiar. Não se toma uma informação como verdade, é necessário desconfiar, apurar todos os lados.
Para ele, essa falta de apuração dos fatos, falta de ir atrás das informações, investigar, se deve a uma crise no mercado do jornalismo, pois existem poucos jornalistas nas redações dispostos a saírem do lugar de conforto e a investigarem, passarem tempo em outra cidade, convivendo com outras pessoas, em outra rotina.
A exposição dos suspeitos antes de uma averiguação adequada, que esclareça as dúvidas da população e do próprio jornalista, pode destruir uma família.

Sobre essa exposição, o doutor Roberto Rolim disse a seguinte frase: ‘’É como se subisse em um edifício, abrisse um travesseiro de penas e jogasse lá de cima as penas ao chão. As penas nunca acabarão, algumas o vento leva para longe, outras as pessoas pegam’’...
Roberto conta que no caso de Tayná, o Ministério Público quis muito manter sigilo total, mas para ele, a luta deve ser por manter o mais público possível todas as investigações, todas as informações. Isso evitaria muito do abuso de poder que sabemos que é praticado.

‘’A gente reproduz declarações de fontes. Isso é jornalismo?’’ Pergunta Rafael Moura. ‘’O jornalista não é um reprodutor de release. A gente não reproduz nem o que o governo diz, por que acreditamos fielmente na polícia?’’ É assim que ele responde seu próprio questionamento.
E se eu, como jornalista, ao dar uma notícia usar as minhas frases no futuro do pretérito? Estarei utilizando da ética jornalística no meu trabalho. Dar uma notícia relevante, de grande circulação pública e colocar como título, por exemplo, ‘’Esses são os supostos criminosos que teriam assassinado a menina de 14 anos’’, com certeza me salvará de um grande processo, mas não salva a pessoa que sofreu tal exposição das consequências, que com certeza serão levadas e lembradas para o resto da vida.
Dessa forma o jornalista está agindo dentro da ética jornalística, mas e a ética moral? Ao menos não deveria contar? Pergunta Rafael Moura. ‘’Para dar qualquer informação, o jornalista tem que estar muito bem embasado’’, ele completa.

Quando foi debatido o assunto da tortura que os quatro suspeitos do crime sofreram na cadeia pela polícia civil, Isabel Mendes deixa bem clara a sua opinião ‘’A tortura não cabe ao culpado, nem ao inocente’’.
A falta de punição às autoridades gera certo sentimento de superioridade, de estar à cima da lei. O povo se revolta com tantas coisas, mas por que em relação a esse assunto somos tão omissos?

O caso Tayná não é um caso isolado, ele é apenas mais uma gota em um oceano, mas ganhou relevância e conhecimento nacional porque a família da menina não se conformou e buscou a imprensa para conseguir ajuda, para conseguir com que sua voz fosse ouvida e que ao menos o crime fosse investigado. Os erros da polícia também alarmaram mais ainda a sua repercussão. 

Rafael encerra sua participação declarando o seguinte: ‘’Ouvir um lado e o outro não quer dizer que você está fazendo um bom jornalismo. O jornalista tem que ir atrás da informação, reproduzir mais do que as fontes dizem. O jornalismo atual virou um jornalismo declaratório’’.

Isso nos leva a pensar sobre nosso futuro papel como agentes transmissores da informação, como formadores de opinião, pontes de acesso do povo até a notícia.
O jornalismo investigativo precisa antes de tudo investigar, e não apenas reproduzir as declarações das fontes oficiais. É necessário voltarmos ao primeiro amor, àquela paixão pela profissão, tal qual que nos faz ir em busca de desafios, de novas informações, novos conhecimentos. Releases prontos não são para jornalistas investigadores. Sensacionalismo também não. O jornalismo investigativo não tem espaço para colocar o que "eu acho", expor o meu juízo de valor. As informações dadas pelos jornalistas são levadas muito a sério, são capazes de destruir uma vida, ou não.
O novo e bom jornalismo está em nossas mãos, futuros profissionais da comunicação, apaixonados pelo que fazemos. A paixão nos move a fazermos as coisas com maior empenho, com maior perfeição.
Antes de qualquer coisa, apaixone-se pela sua profissão, apaixone-se pela oportunidade ser alguém que tem a chance de formar opinião, sendo ela boa ou ruim, apaixone-se por ser capaz de dar a notícia à população que está sedenta por algo novo, algo inédito, algo interessante.

Encerro a cobertura da Semana de Comunicação UP com duas frases de Felipe Pena, que têm tudo a ver com o que aprendemos hoje na palestra: "No jornalismo não há fibrose. O tecido atingido pela calúnia não se regenera. As feridas abertas pela difamação não cicatrizam. A retratação nunca tem o mesmo espaço das acusações.'' E "Jornalismo investigativo não se baseia em denúncias, apenas começa com elas. A base mesmo é uma sólida pesquisa por parte do repórter." 

Espero que a partir de hoje, todos nós que ouvimos ou lemos sobre esta palestra, na verdade sobre tudo o que foi postado no blog e ministrado na Semana de Comunicação, tenhamos um novo ponto de vista para fazermos um jornalismo diferenciado, um jornalismo esperado há tanto tempo pela população inconformada.

Um grande abraço a você que investiu seu tempo buscando novos conhecimentos!

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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Jornalismo Investigativo: A série Crimes sem Castigo

Viviane Menosso (aluna UP), Rogério Galindo (jornalista da Gazeta do Povo), Bruna Alves (aluna UP), Victor Turezo (aluno UP), Vitório Peluso (aluna UP) e Kátia Brembatti (jornalista da Gazeta do Povo e professora da UP).
Foto de Suelen de Paula.
Olá! Hoje tivemos mais uma palestra na Semana de Comunicação.
O tema tratado foi ‘’Jornalismo Investigativo: A série Crimes sem Castigo”, que foi publicada na Gazeta do Povo entre os dias 4 a 12 de agosto de 2013.
O convidado para conduzir a palestra foi Rogério Galindo, formado em jornalismo e publicidade pela UFPR, fazendo mestrado em filosofia e autor do  blog Caixa Zero da Gazeta, é também um dos responsáveis pela série. A série Crimes sem Castigo trata sobre a impunidade existente em Curitiba.
Rogério inicia sua participação contando que a série teve um ano e meio de investigação para então ser publicada. Foram apurados mais de 145.000 inquéritos policiais referentes a 1.000 homicídios dolosos ocorridos entre 2010 e 2013.
A motivação da sequência de reportagens para Crimes sem Castigo foi ‘’cobrir o que está acontecendo e não o que já aconteceu’’ – Rogério Galindo. Mostrar de maneira ampla qual é a situação dos homicídios em Curitiba hoje. Ter uma visão com maior vastidão sobre o que está acontecendo nos nossos dias. Segundo Galindo, Curitiba tem mais assassinatos no período de um ano do que diversos países da Europa, como a França.
Rogério conta que a polícia não deu muito auxílio em relação aos inquéritos, então precisaram de astúcia para conseguir o material. O promotor de justiça de Curitiba foi contatado e só aí conseguiram o conteúdo de que careciam. ''Vivemos em uma sociedade de pouca transparência'' relata Galindo.
Durante um ano apenas tiraram cópias desse material. No começo de 2013 começaram a ler esses inquéritos e montar um banco de dados. A partir deste banco de dados foram criadas as pautas para as matérias.
Mas se todo esse material começou a ser analisado apenas no começo deste ano, como conseguiram montar as reportagens e publicar em tão pouco tempo? Talvez essa seja uma dúvida, e usarei a frase de Rogério para respondê-la: "Se você tem informação relevante, consistente, a parte de escrever a matéria é fácil".
Foram gastos um ano e meio para fazer a série, mas a parte das entrevistas e da edição das matérias levaram apenas 3 semanas. Para Galindo a parte mais complicada foi montar o banco de dados.

Rogério Galindo continua a sua participação declarando que o estado brasileiro, pelo menos em Curitiba, é incapaz de fazer com que as pessoas sejam presas, fazendo com que elas retornem ao faroeste e façam justiça com as próprias mãos. Para ele, parece que o assunto de morte sistemática de uma parcela consistente da população não atinge aos cidadãos em geral. Isso gerou grande indignação no jornalista.

Galindo conclui afirmando que o jornalismo tem um papel civilizatório, que deve mostrar as pessoas não apenas o que está acontecendo de errado, mas apontar caminhos, defender valores...
“O futuro do jornalismo é ser relevante, enquanto formos relevantes as pessoas procurarão a gente. E para ser relevante é necessário investigação.” – Rogério Galindo
Questionado sobre a importância da série em sua carreira jornalística, Rogério usa uma frase de Guimarães Rosa para responder: ‘‘É mais importante construir pirâmides do que biscoitos”, contextualizando sobre o seu trabalho como blogueiro da Gazeta na editoria de política. Para ele, a série Crimes sem Castigo foi o seu projeto mais importante.  

A série feita pelos jornalistas Rogério Galindo, Bruna Walter, Rosana Félix e José Lopes, todos da Gazeta do Povo, também contou com a participação de cinco alunos da Universidade Positivo como estagiários voluntários, que ajudaram na investigação dos inquéritos e na composição do banco de dados. São eles: Bruna Alves do 1º ano; Victor Turezo do 2º ano; Viviane Menosso, também do 2º ano, Vitória Peluso e Renata Martins do 3º ano.
Em entrevista para nosso grupo, Vitória Peluso contou que o estágio durou um mês, sendo usadas duas semanas para auxiliar na série. Para ela, aluna do 3º ano, a oportunidade trouxe seu primeiro diferencial profissional, já que sua vontade é trabalhar no jornalismo impresso.

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Vamos politicar?

Hoje foi o segundo e último dia da oficina de Jornalismo Político na Semana de Comunicação UP.
Tivemos um momento mais descontraído, onde Cliceia Alves mostrou na prática o dia-a-dia de um jornalista político.
Ela contou sobre as consequências da série ‘’Diários Secretos’’, publicada pela Gazeta do Povo em 2010 para divulgar desvios de dinheiro na Assembleia Legislativa do Paraná. 
Os resultados  da série incluem a modernização tecnológica da ALEP e a maior transparência do gasto de dinheiro público. Além de as medidas tomadas pela diretoria da ALEP na época para contornarem a situação de escândalo ter gerado uma economia de R$ 90 milhões.
Cliceia encerra a sua participação na Semana de Comunicação dizendo que: 
‘’Política é indispensável, e se nós a rejeitarmos o estrago vai ser maior. Os maus políticos vão agradecer essa atitude.”

Tivemos duas aulas esclarecedoras sobre política, que com certeza ou despertaram o interesse dos alunos nessa área ou fizeram com que eles resolvessem que política não é o seu assunto preferido.
Dois dias são muito pouco para um tema tão complexo e amplo como política. 
Para Cliceia, o povo ainda não tem o interesse necessário pelo assunto. O essencial para construir uma população cidadã e que exerça definitivamente esse papel seria integrar a política como matéria acadêmica, como assunto corriqueiro e principalmente fazer dela um tema de interesse público, principalmente dessa nova geração de jovens tecnológicos, tornando-a compreensível.
Se todos soubessem que pessoas morreram nos tempos da ditadura para podermos exercer o nosso direito a cidadania hoje, a política seria tratada com maior consideração e interesse.

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